A economia é um conjunto de regras invisíveis que organiza a forma como vivemos. No atual cenário, de pandemia, serviços essenciais de cuidado se tornaram visíveis aos olhos de muitas pessoas. Estamos todos, neste momento, precisando nos dedicar a cuidar da saúde coletiva para salvar milhares de vidas.
O trabalho de cuidado envolve muitas horas e tempo dedicado ao cuidado com a casa e com pessoas: dar banho e fazer comida, faxinar a casa, comprar os alimentos que serão consumidos, cuidar das roupas (lavar, estender e guardar), prevenir doenças com boa alimentação e higiene em casa e remediar quando alguém fica ou está doente, fazer café da manhã, almoço, lanches e jantar para os filhos, educar e segue por horas a fio.
A economia do cuidado é essencial para a humanidade. Todos nós precisamos de cuidados para existir. E, se hoje você é uma pessoa adulta, é porque alguém já desempenhou horas de trabalho de cuidado com alimentação, vacina, remédios, limpeza e higiene, educação, entre diversas outras funções por horas. E a sociedade, os empregadores que contratam pessoas (veja que óbvio), a gestão pública, as universidades, todas as demais esferas se aproveitam desse trabalho que é gratuito ou mal-remunerado (quando terceirizado).
Visibilizar, redistribuir e remunerar o trabalho de cuidado é fundamental, já que este é um dos principais recursos da economia atual. Assim como a invisibilidade dele cria condições de vigência da estrutura desigual, sem ele, a economia como conhecemos não seria viável.
Este trabalho ainda é quase que exclusivamente exercido por mulheres: mães (e mães solo), chefes de família, empregadas domésticas, babás e cuidadoras, professoras, enfermeiras.
Mulheres e meninas ao redor do mundo dedicam 12,5 bilhões de horas, todos os dias, ao trabalho de cuidado não remunerado – uma contribuição de pelo menos US$ 10,8 trilhões por ano à economia global. Isso dá mais de três vezes o valor da indústria de tecnologia do mundo (Fonte: Oxfam: Tempo de Cuidar).
Além disso, as mulheres e meninas são responsáveis por mais de três quartos do cuidado não remunerado realizado no mundo, e representam dois terços da força de trabalho envolvida em atividades de cuidado remuneradas. (Fonte: Oxfam: Tempo de Cuidar)
E, em nossa cultura, enraizada em uma sociedade escravocrata, a maior parte das pessoas que exercem esse trabalho no Brasil são mulheres negras, profissionais domésticas e cuidadoras.
O trabalho de cuidado é invisibilizado pois interessa ao capitalismo essa invisibilidade. Quem ganha? Quanto a economia ganha não remunerando este trabalho? Como se conecta ao afeto, ao amor, não se enxerga que este é um subsídio para a economia existir da maneira que existe hoje.
O impacto na vida das mulheres é imenso: amplia as desigualdades de renda, precariza as condições de vida em todos os âmbitos e ainda acarreta estresse, estafa, depressão, entre outros problemas para a saúde.
São as mulheres mães aquelas que assumem a obrigação de distrair as crianças, cuidar da rotina, e ainda para as que trabalham, cumprir as horas trabalhadas. O distanciamento social, principal medida de prevenção contra o coronavírus, traz consigo a sobrecarga, a solidão e a exaustão para mulheres mães.
Tudo isso gera muito impacto no caminho profissional e no acesso a renda desta mulher. Ocupada com o “invisível’, ela fica privada do tempo e dos recursos necessários para conquistar sua autonomia financeira, permanecendo presa em um ciclo de exploração.
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