Sem os grupos feministas o Processo constituinte Chileno não teria acontecido! Estes coletivos fizeram parte da proposta de uma nova constituição para o país desde 2019, partindo de uma série de questionamentos sobre feminicídio, aborto, cuidado e outros direitos das mulheres.
A busca das mulheres por mais direitos é um movimento ancestral e em constante construção. No século 21, esse movimento ganhou mais pluralidade e o poder de alcance da internet. Tornou-se um movimento massivo e tomou conta de várias sociedades, como uma onda impossível de ser detida.
Em 3 de junho de 2015, na Argentina, ocorreu a primeira marcha do Ni una Menos, que surgiu como um coletivo de comunicadoras sociais que se uniram em resposta à linguagem dos meios de comunicação que exibiam crimes de feminicídio de maneira acrítica e que até fomentavam a violência.
Este movimento colocou em circulação o conceito de feminicídio, politizou essas mortes e contextualizou o feminicídio como a ponta do iceberg de uma série de outras violências que estavam invisibilizadas e que não apareciam conectadas a estes crimes. Depois, o Ni una Menos estimulou a criação da Maré Verde, uma outra campanha pelo aborto legal que culminou na conquista deste direito em 2021.
No estudo ELEITAS: Mulheres na Política, o Instituto Update destacou que “o movimento Argentino das últimas décadas é um marco desse levante de mulheres em diferentes países da América Latina: vimos as mulheres nas ruas do Brasil em 2018, cobrando respostas pela morte da vereadora Marielle Franco, assim como em oposição a Jair Bolsonaro com o #EleNão”.
Ainda que nem todos os movimentos tenham tido os resultados esperados, essa onda de protestos tem em comum a presença massiva das mulheres nas ruas e a conexão com campanhas em redes sociais, o que amplia o alcance de tais questionamentos. Já em 2019, no México, mulheres se reuniram nas ruas para protestar contra a violência policial compondo o movimento #NoMeCuidanMeViolan. No fim do mesmo ano, no Chile, o coletivo feminista LASTESIS fechou uma rua, em Valparaíso, para cantar: “O patriarcado é um juiz, que nos julga por nascer. E nosso castigo é a violência que não vês. É feminicídio. Impunidade para o meu assassino. É o desaparecimento. É a violação”. Uma intervenção pública impactante cujas imagens circularam por todo mundo e que foi reproduzida diversas vezes, inclusive no Brasil.
Estes eventos todos contribuem para perceber que as conquistas são processuais, são parte de um contexto amplo, são construção cultural que está em disputa a todo momento. Também deixam claro que o caminho não é fácil, mas é possível, e por isso estamos aqui para resistir, sem desistência.
Este é o segundo de uma série de conteúdos sobre cuidado e política, desenvolvido com o apoio do Nuestras Cartas, projeto do Instituto Update. Acompanhe o Lab e siga junto com a gente nesse exercício de esperança.