Uma série de conversas com trabalhadoras domésticas e diaristas, em entrevistas guiadas por suas filhas e netas. Uma troca afetiva e um exercício de futuro, em que as mulheres que vieram depois, escutam e propagam as vivências e ensinamentos das que vieram antes. Um conteúdo produzido pela Think Olga, para o Laboratório Think Olga de Exercícios de Futuro.
Edna Santos é moradora da Soledade, tem 44 anos, é mãe de Helóa, Heloísa, Emily e avó de Agatha Morgana. É trabalhadora doméstica desde os 12 anos. Hoje trabalha como diarista. Heloísa Santos, 24, é quem entrevista sua mãe. Sergipana, publicitária formada na Universidade Tiradentes, atua há cinco anos com mídia e produção. “Poder conhecer, partilhar e expandir histórias, de longe, é um dos grandes privilégios que o ser comunicóloga me traz. Durante minha graduação, minha mãe sempre me apoiou incondicionalmente, mesmo não sabendo explicar para as amigas o que filha faz. Hoje, poder contar a história da mulher da minha vida, história essa que sempre se fez tão presente, é de uma emoção quase que inexplicável, é de encher o coração de afeto ver ser seu sorriso tímido, suas reflexões e simplicidade, e saber dos seus sonhos futuros, a correria do dia a dia nos tiram esses momentos de partilha e de visita a nossa essência de certa forma. Visitar a essência dessa mulher fantástica é entender todos meus processos e passos para lutar e viver.”
Maria José tem 60 anos, é natural de Pernambuco, moradora do Jardim São Luís (SP) e há 30 anos atua como trabalhadora doméstica. Amanda Guimarães é quem entrevista sua avó Maria, que foi uma das mulheres presentes em sua criação desde criança. Nasceu e cresceu no Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, é uma das mentoras teen do Plano de Menina, é produtora de conteúdo e voluntária na UNICEF. Amanda presenciou com muita garra a força da mulher que hoje é uma de suas maiores referências. “Minha vó é uma mulher que faz o mundo sorrir com o seu jeito único, sempre leva a cura para tudo que um dia feriu. Ela é como um dia de sábado ensolarado.”
Carmen Lúcia tem 57 anos e é trabalhadora doméstica. Sua mãe e suas irmãs também foram trabalhadoras domésticas. Sua filha, Natália Dornelles, é mulher preta e artista, formanda do curso de licenciatura em dança da Universidade Federal do Rio Grande Sul. Ela tua como educadora social em Porto Alegre e é integrante do Coletivo Corpo Negra, formado por mulheres pretas, artistas e pesquisadoras. “Minha mãe foi aquela mulher que criou os filhos dizendo que a nossa maior herança, era o estudo. Teve um dia que as coisas na minha casa estavam muito ruins financeiramente, eu cheguei e disse para minha mãe que ia fazer faxina para ajudar. Ela me olhou como se os olhos dela fossem aquele chinelo que ‘comia’ quando eu era criança e fazia algo errado. Ela logo disse -se eu tô aqui limpando o chão dos brancos é pra que vocês possam estudar. Eu sei que não foi fácil abrir mão dos sonhos dela pelos filhos, por isso sou grata por cada ensinamento e sacrifício que ela fez por nós. Eu venho de um ventre sagrado, um ventre que carrega amor, dores e potência, um ventre africano em diáspora. Obrigada por tudo mainha, te amo.”
A Think Olga agradece à Edna Santos Santana, Carmen Lúcia Proença e Maria José de Santana por contarem suas histórias. Obrigada à Heloísa Santos de Gois, Natália Proença Dorneles, Amanda Guimarães por aceitarem nosso convite para serem entrevistadoras nessa série e dividirem de modo tão genuíno e afetuoso a relação das mulheres de suas famílias com o trabalho do cuidado.
créditos
Roteiro: Rita Romão
Produção e texto: Rita Romão e Laura Samily
Edição: Thallini Millena/Engajô