Laboratório Think Olga
Lab Think Olga | Cuidado e Política

Saúde das mulheres

Mulheres são a linha de frente da saúde e do cuidado, mas seguem sozinhas, desamparadas e adoecendo

Qual é o problema?

"Quem tem um dom de cuidar do outro sabe sentir a dor do outro e jamais o abandona"

Mônica Calazans, enfermeira, primeira pessoa vacinada no Brasil

A frase acima é de Mônica Calazans, 54, primeira brasileira vacinada. Enfermeira, trabalha na UTI do hospital Emílio Ribas em São Paulo. Além de trabalhar no hospital, ela cuida da mãe, de 72 anos. Mônica tem comorbidades que a colocam no grupo de risco da doença, é obesa, hipertensa e diabética. Mesmo assim, em maio, no auge da pandemia da COVID-19, ela se inscreveu para às vagas de enfermagem abertas e escolheu o hospital Emílio Ribas para o cargo.

Assim começa oficialmente a vacinação no Brasil. Com a aprovação de duas vacinas que serão distribuídas gratuitamente pelo sistema público de saúde, a CoronaVac (China) e AstraZeneca (Índia), elaboradas em parceria com os institutos de pesquisa Butantan e FioCruz respectivamente.

Um primeiro sinal de saída da pandemia se anuncia no Brasil. E, não à toa, Mônica é o símbolo de quem deve estar na primeira fila da vacina. As enfermeiras são a linha de frente do enfrentamento ao coronavírus, representam mais de 80% do corpo de profissionais da saúde. É mãe, negra, viúva, pobre e cuida de milhares de pessoas em sua profissão como enfermeira.

Estamos em emergência de saúde pública devido à pandemia da COVID-19. O vírus dessa doença, que se propaga rapidamente, levou a colapsos nos serviços de saúde no mundo e colocou profissionais de saúde na linha de frente.

A falta de informação e atenção às trabalhadoras da saúde fez das Américas a região com o maior número de profissionais de saúde infectados no mundo

Mais de 80% dos profissionais de enfermagem acometidos pela Covid são mulheres e mais de 60% dos óbitos na enfermagem são mulheres

Fontes: OPAS/OMS

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São as mulheres a maior parcela de profissionais da saúde contaminados e que vieram a óbito por Covid-19 no Brasil

No mundo, as mulheres representam mais de 70% dos profissionais da saúde, mas ainda estão atrás em posições de liderança – como por exemplo em diretorias de estabelecimentos de saúde ou como secretárias e ministras de Saúde.

Ainda refletindo sobre liderança feminina, uma série de países com lideranças femininas tiveram um achatamento do contágio logo no início da pandemia, como Alemanha, Nova Zelândia, Noruega e Taiwan.

É um contraste com a postura explosiva e a negação a fatos científicos adotadas por líderes do gênero masculino, como os presidentes dos EUA e Brasil, Donald Trump e Jair Bolsonaro, os dois piores epicentros da doença hoje.

Brasil é o pior país do mundo no combate à pandemia, aponta estudo

Entre 98 nações, o país ocupa a última posição, segundo o Instituto Lowy (dados do dia 28 de janeiro de 2021). Já ultrapassou a marca de 8 milhões de pessoas infectadas pelo coronavírus e registrou mais de 200 mil óbitos.

"As mulheres estão entre as mais afetadas. Isso porque elas são as mais expostas ao risco de contaminação e às vulnerabilidades sociais como desemprego, violência, falta de acesso aos serviços de saúde e aumento da pobreza". (Fonte: Conselho Nacional de Saúde).

Elas são as principais agentes de cuidados para com o outro e, por isso mesmo, sofrem diretamente com a sobrecarga, exaustão, estresse e até solidão.

Desde 1995, o Brasil ratificou um compromisso mundial para que as mulheres tenham acesso durante toda sua vida aos serviços de atendimento à saúde, à informação e a serviços adequados, de baixo custo e boa qualidade (Declaração de Pequim, 1995).

Mas, desde o início da pandemia, o que elas vivem é a dificuldade do acesso a serviços de obstetrícia e contraceptivos, o que levou ao aumento da mortalidade materna.

"Não podemos mais tolerar um mundo onde a saúde global é subsidiada pelo trabalho não pago das mulheres mais pobres do mundo." Roopa Dhatt, médica e co-fundadora da organização Women in Global Health

"As mulheres têm sido as mais afetadas. As profissionais da saúde, principalmente. Quando você soma a mulheres que precisam também cuidar dos seus, aquelas que amamentam, por exemplo, piora"

Denise Pimenta, pesquisadora da FioCruz

O Brasil concentra 77% das mortes de gestantes e puérperas

Fonte: CNS, 2020

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Dentre as vítimas, a mortalidade materna de mulheres negras por covid-19 é duas vezes maior que a de mulheres brancas

Entre as gestantes negras hospitalizadas 14,2% foram a óbito. Entre as brancas, 7% morreram, metade dos casos.

Fonte: CNS, 2020

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Todos os transtornos desse momento de crise geram algum impacto na saúde dessas mulheres. Seja física, psíquica, alimentar ou emocional.

Apesar de o índice geral de mortes registradas até agora serem maiores entre homens, são as mulheres negras e indígenas as mais expostas aos riscos de contaminação, desemprego, violência, falta de acesso aos serviços de saúde e aumento da pobreza, causados pela COVID-19.

A população mais impactada pela Covid-19 no Brasil é negra, feminina e periférica.

Em um estudo realizado pelo Instituto Pólis ainda no início da pandemia, no período de 1º de março e 31 de julho, os dados revelam que em São Paulo, entre as mulheres brancas, a taxa de óbitos por Covid-19 foi de 85 mortes/100 mil habitantes e, para mulheres negras, o indicador subiu para 140 mortes/100 mil habitantes.

É preciso levar em consideração a intersecção entre raça, classe e gênero, para uma análise realista sobre os impactos historicamente provocados na saúde das mulheres negras, pelo racismo estrutural combinado com o sexismo.

“Para mulheres negras, o ‘novo normal’ pós-COVID-19 não existe.

O nosso histórico de combate ao racismo precede este momento e continuará. Esse momento intensifica, justamente, as demandas que reivindicamos há séculos: a garantia de direitos básicos, que inclui os que são sexuais e reprodutivos, bem como saneamento, moradia, formação, trabalho digno e a vida", Thânisia Cruz, da Articulação de Negras Jovens Feministas, em matéria da ONU Mulheres.

Na cidade de São Paulo, pessoas negras têm 62% mais chances de morrer de COVID-19 quando comparadas à pessoas brancas.

Secretaria Municipal da Saúde do Estado de São Paulo

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O panorama traz quatro temas que estão no centro dos problemas vividos pelas mulheres durante a pandemia. A invisibilidade das profissionais da saúde, na linha de frente do cuidado, que têm levado à morte de enfermeiras e cuidadoras, além da sobrecarga de trabalho. O desmantelamento de serviços para os direitos sexuais e reprodutivos, que levaram ao aumento da mortalidade materna, gravidez indesejada e outros fatores. O imenso impacto da crise na saúde mental das trabalhadoras, das mães e mulheres que estão vivendo desemprego, jornadas triplas de trabalho e violências em casa. E a vulnerabilidade de mulheres negras, indígenas e não-brancas, que têm sofrido com desemprego e renda, falta de acesso à saúde e prevenção adequadas e por serem boa parte das profissionais de saúde com trabalhos precarizados.

Para saber mais como estamos enfrentando esses problemas e o que podemos -juntas e juntos- fazer, acompanhe abaixo os exercícios de futuro.

Acompanhe com a gente a criação de exercícios de futuro

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