nomes próprios (ou "ladainha pra não esquecer o nome delas") por tatiana nascimento é um manifesto poético em formato de áudio, escrito e produzido em parceria com a artista tatiana nascimento, sobre as mulheres que historicamente e também agora em contexto de pandemia, são as mais impactadas com as políticas de desfinanciamento e desmonte dos direitos das mulheres, em prática pelo governo federal.
Desde que a pandemia começou, os índices de feminicídio e violência contra à mulher vem sofrendo um aumento alarmante. O isolamento social e as instabilidades do momento, geram ambientes domésticos de insegurança e tensão para as mulheres, que sem um amparo efetivo do Estado, seguem ainda mais vulneráveis à violência neste contexto.
Enquanto isso, as atitudes do governo federal em lidar com a questão, reafirmam uma política estratégica de desfinanciamento e negligência dos direitos das mulheres. Um governo que reforça um posicionamento ideológico patriarcal, misógino e autoritário.
Ao colocar a Família como o grande sujeito, você retira a mulher como sujeito de direito, de direitos específicos e direcionados. É falacioso esse argumento, pois a família é também o lugar da violência. Como uma instituição monogâmica, de hierarquias etárias e papéis de gênero muito definidos é o lugar da obediência e do controle. Não é o lugar da autonomia. E estatisticamente é o lugar da violência, da morte, da letalidade
Beatriz Accioly Lins, antropóloga, pesquisadora especialista em estudos sobre violência contra as mulheres e Coordenadora de Pesquisa no Instituto Avon.
por tatiana nascimento
em nome do casal
e do filho, da
honra e do
Estado
de tanto desdém,
em nome da família
"sagrada" é que
convém:
esquecer
quem é
ela,
qual
é o nome
que ela tem.
seu nome que a palavra mãe esconde
que a palavra esposa esconde
que a palavra filha esconde
o sobrenome que a esconde
atrás do nome
do seu pai
também.
y se o sobrenome da família
não soterra o nome próprio
que ela ainda tem,
quem
lembra o nome
dela, qual é o nome
que ela tem?
se o número da violência
não atinge a vida
que ela tem
quanto vale
a vida dela, ela que
é vista como um tipo
de ninguém?
se o governo não nomeia
a importância da vida
de alguém,
se não se importa com as
mortes, maltratos que
ela e tantas irmãs
sem nome
mas que têm cor
mas que têm sexo
(com útero ou nem)
enfrentam também,
qual chance
de viver, de ser feliz
de ser tratada como gente,
não ser objetificada, nem tornada
em posse, em mercadoria,
mãe-de-obra do lar
não remunerada,
qual chance de
nutrir corpo & alma
de não ser alvo
do esquecimento programado
da violência programada
da morte programada
(na pandemia
amplificada & piorada
na falta de financiamento
programada pelo
estado)
qual chance real
de vida digna
de vida
sua
de vida
inteira
ela tem?
se até o nome dela
é conveniente esquecido
em nome da moral, da família
& seus costumes racistas,
classistas, trans/femini
cidas, infanticidas,
a vida que não deixam
pertencer a elas, que
cuidam de tanto y
de todos,
é cuidada por quem?
a vizinhança em silêncio diz
amém
os homens de bem dizem
amém
o Estado "de direitos" diz
amém
y quase ninguém se lembra
quem é ela, quem são
elas, quais nomes,
que vidas, que
chance
elas têm?
Ficha-técnica:
Realização: Think Olga
Edição: Amanda Kamanchek
Direção criativa: Laura Samily da Silva
Poesia, escrita, voz e montagem: tatiana nascimento @tatiananascivento
Composição, guitarra: Thiago Tuby @othiagoruby
Colagens: Silvana Martins + Raincake
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